O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), presidido pelo economista Marcio Pochmann, lançou nesta semana um mapa-múndi que traz uma projeção cartográfica invertida. Ou seja, o território dos países aparece de ponta-cabeça se comparado aos modelos frequentemente utilizados. As nações do hemisfério sul ocupam a parte superior do globo, e o Brasil preenche o centro do mapa.
“A novidade busca ressaltar a posição atual de liderança do Brasil em importantes fóruns internacionais como no Brics e Mercosul e na realização da COP30 no ano de 2025”, disse Pochmann em sua conta no X.

A iniciativa também foi anunciada no site da agência de notícias do IBGE. Há um ano, a gestão Pochmann havia provocado debates nas redes sociais com a criação de outro mapa-múndi. À época, o material já trazia o Brasil no centro da projeção, mas não de forma invertida, como ocorre desta vez.
Chamado de “lacração geográfica” por alguns e “ícone decolonial” por outros, o mapa de 2024 polarizou internautas que passaram a discutir temas como cartografia, geopolítica e patriotismo. A instituição falou à época em “grande sucesso” da ideia.
Houve, porém, quem enxergasse ruído desnecessário para o IBGE, um órgão de Estado que historicamente prezou pela discrição ao divulgar dados que muitas vezes são sensíveis para governantes. O instituto é responsável pela produção técnica do Censo Demográfico e de indicadores como PIB (Produto Interno Bruto), taxa de desemprego e inflação.
O lançamento do mapa invertido ocorre meses após a explosão de uma crise interna no órgão. Servidores passaram a reclamar de medidas adotadas pela gestão Pochmann, como a criação de uma fundação de direito privado, a IBGE+, suspensa neste ano.
O sindicato dos trabalhadores chegou a apontar autoritarismo em decisões da direção do instituto, que rebateu as acusações em mais de uma ocasião. Pochmann foi indicado ao comando do IBGE pelo presidente Lula (PT) e, apesar da crise, conseguiu se manter no cargo.
A direção do órgão anunciou o novo mapa em conjunto com a realização de um evento chamado Triplo Fórum Internacional da Governança do Sul Global – Novos indicadores e temas estratégicos para o desenvolvimento e a sustentabilidade na Era Digital.
Segundo o IBGE, a programação é organizada em conjunto com o Governo do Ceará. A agenda está prevista para ocorrer de 11 a 13 de junho em Fortaleza.
“Como marca desse evento, também estamos lançando o novo mapa-múndi, que tem o Brasil nesse centro do mundo, mas agora de uma forma invertida, estimulando a reflexão sobre como nos vemos neste novo mundo em que as transformações ocorrem mais rapidamente e exigem um protagonismo brasileiro ainda maior”, afirmou Pochmann em vídeo divulgado pelo IBGE.
A nova projeção cartográfica traz ainda indicações da cidade do Rio, que recebe a cúpula dos Brics neste ano, de Belém, sede da COP30, e do estado do Ceará, em razão do Triplo Fórum. O professor de cartografia Gustavo Mota de Sousa, da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), afirma que um mapa-múndi pode ser feito de diferentes maneiras e que a representação do IBGE não está errada.
“A ideia é principalmente valorizar o país. Colocar o país um pouco para cima acaba fazendo com que fique mais em evidência.” O professor diz parabenizar o instituto pela iniciativa.
O novo mapa, por outro lado, virou alvo de uma nota de repúdio de uma ala da Assibge, a associação sindical dos trabalhadores do IBGE.
Nesta quinta-feira (8), o instituto colocou o mapa à venda em sua loja virtual. Esse espaço é voltado para o público que deseja adquirir, em formato impresso, publicações produzidas pelo órgão e que estão disponíveis em estoque. O IBGE, contudo, já disponibiliza seus trabalhos para acesso gratuito e de modo digital em seu site.
A instituição também pretende disponibilizar o mapa impresso para compras físicas, a partir de segunda-feira (12), no Palácio da Fazenda, no Rio de Janeiro. O endereço abriga a Casa Brasil IBGE, que engloba livraria e espaço para visitação e eventos do instituto. A casa já recebeu divulgações de pesquisas.
Na loja virtual, havia três opções do mapa à venda na tarde desta quinta. Os preços eram de R$ 15, R$ 25 e R$ 90, dependendo do tamanho dos modelos. Também era possível encomendar no mesmo espaço algumas publicações sobre temas variados do IBGE.
Fonte: O Tempo
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