Nos últimos dias, uma criança faleceu e outras duas esperaram dias por atendimento; declaração do governador ocorreu durante coletiva de imprensa sobre entrega de ônibus metropolitanos.
Minas Gerais decretou estado de emergência em saúde há uma semana.
Uma semana após declarar estado de emergência em razão da elevação dos casos de doenças respiratórias, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, afirmou em entrevista que o Estado enfrenta um surto. O aumento expressivo das ocorrências e a consequente sobrecarga da rede hospitalar resultaram, nos últimos dias, na morte de uma menina de 1 ano que aguardava por um leito, além de pelo menos outras duas crianças que ficaram mais de uma semana sem acesso ao tratamento adequado.

A declaração foi feita durante uma coletiva convocada pelo governo mineiro para a entrega simbólica de ônibus metropolitanos em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. “Infelizmente, estamos enfrentando um novo surto de doenças respiratórias, provocado pelo tempo seco. Em determinados dias, o sistema de saúde fica extremamente sobrecarregado, mas estamos monitorando de perto para garantir atendimento a todos”, afirmou.
Zema também destacou que o governo estadual está mobilizado para resolver os impactos provocados pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). “Nosso secretário de Saúde está empenhado com toda a equipe para encontrar soluções. Se for preciso transferir pacientes ou usar aeronaves em casos mais críticos, faremos tudo o que for necessário, como já fizemos em outras ocasiões”, completou.
A reportagem solicitou à Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) um posicionamento sobre a fala do governador e a possível confirmação do surto. Até a publicação desta matéria, a pasta não havia se manifestado.
Segundo dados, Minas Gerais tem registrado, em 2025, uma média de 240 internações diárias por doenças respiratórias — o equivalente a uma internação a cada 6 minutos. De acordo com o Painel de Internações por Síndromes Respiratórias da SES-MG, foram contabilizadas 29.723 internações até o momento, um crescimento de 4,6% em relação às 28.409 registradas no mesmo período de 2024.
Até agora, o estado já confirmou 438 óbitos relacionados à doença, entre eles o de uma menina de 1 ano que, após três dias internada em um hospital de Pedro Leopoldo, faleceu enquanto aguardava transferência para outra unidade com suporte adequado. O infectologista Leandro Curi explica que a SRAG é caracterizada pela dificuldade respiratória, geralmente causada por infecções virais como Influenza e Covid-19.
“Em crianças pequenas, até mesmo um vírus de resfriado pode causar bronquiolite, uma condição bastante grave. Os casos se intensificam nessa época do ano, com a queda nas temperaturas. Os mais afetados são os idosos e crianças pequenas, cuja imunidade tende a ser mais frágil”, detalha o médico.
Quase 37 mil solicitações de internação
Conforme o painel da SES-MG, o Estado havia registrado 36.914 solicitações de internação por SRAG, sendo que apenas 30.080 foram efetivadas. Isso representa 6.834 pedidos (18,5%) que não resultaram em hospitalização.
A SES-MG explicou que a diferença pode ocorrer por diversos fatores, como melhora clínica do paciente, cancelamento do pedido ou manutenção do tratamento na unidade de origem. “A simples existência de pedidos de internação não deve ser interpretada, isoladamente, como indicativo de falta de leitos”, informou a pasta.
Além disso, a secretaria ressaltou que a evolução para óbito em casos graves como os das síndromes respiratórias depende de vários fatores clínicos e epidemiológicos, incluindo idade, comorbidades e histórico vacinal, tornando impossível estabelecer uma relação direta entre internações não realizadas e número de mortes.
Prevenção
Para quem convive com pessoas de risco — como idosos, crianças ou imunossuprimidos —, a principal forma de prevenção contra a SRAG continua sendo a vacinação, sobretudo contra Influenza e Covid-19, conforme reforça o infectologista Leandro Curi. “Infelizmente, a falta de confiança de alguns pais pode deixar as crianças desprotegidas e expostas a complicações graves”, alerta.
Além das vacinas, manter hábitos de higiene é essencial. “Lavar as mãos com frequência, garantir boa ventilação dos ambientes e usar máscara ao apresentar sintomas são medidas simples, porém eficazes. Também recomendo evitar visitas a recém-nascidos sem o uso de máscara durante esse período, já que até um resfriado pode ser perigoso”, orienta Curi.
O médico ainda lembra de práticas divulgadas durante a pandemia de Covid-19, como o uso de álcool em gel, cobrir o rosto com o braço ao tossir ou espirrar e o uso de máscaras como proteção adicional.
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