A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, foi denunciada formalmente por ex-servidores de sua equipe por suposta prática de assédio moral e xenofobia. Os casos foram enviados para análise na Controladoria-Geral da União (CGU) e na Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência da República.
A informação foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada por O TEMPO Brasília. Há pelo menos cinco denúncias protocoladas. O material conta com dossiês escritos e três gravações de reuniões internas em que as supostas condutas teriam ocorrido.
Os relatos apontam que, no trabalho, os então servidores passavam por ameaças de demissão e cobrança de trabalho em prazo insuficiente. Também há registros de tratamento hostil e declarações preconceituosas, além de gritos.
Cida Gonçalves teria se dirigido a servidores em tom de ameaça, segundo as denúncias. Isso, em uma reunião convocada após a demissão da então secretária nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política, Carmem Foro, que não estava na pasta por escolha da ministra. As duas teriam se desentendido antes da demissão.
“A gente não está no movimento social. Até no movimento social tem hierarquia. E nós estamos no Ministério das Mulheres. Aqui tem hierarquia. Eu não posso afrontar o presidente, e nenhuma secretária pode me afrontar. Pode discordar, é diferente. E se vocês acham que eu não sei o que aconteceu nos corredores, eu sei. Cara, eu sei tudo”, teria dito a ministra na reunião, segundo o jornal.
A ministra também teria sinalizado a demissão de servidores que tinham entrado no órgão por Carmen Foro. “Pode ser que boa parte de vocês [servidoras] também possam sair ou não. A princípio, eu tinha dito para a Carmen que quem é dela, que veio com ela, tinha que ir”, teria dito, ressaltando que seria “mais difícil” selecionar para o cargo pela cobrança de recrutar “uma mulher negra, do Norte ou do Nordeste” e com viés “feminista”.
Além de Cida, foram denunciadas outras três pessoas. A secretária-executiva do ministério das Mulheres, Maria Helena Guarezi, teria tido atitude racista em uma reunião. A ex-diretora de Articulação Institucional Carla Ramos, é apontada por gritar com subordinadas. Já a corregedora interna, Dyleny Teixeira Alves da Silva, por ter se omitido na apuração das denúncias.
Outro lado
A CGU confirmou à reportagem de O TEMPO Brasília que recebeu e analisou denúncias de “supostos casos de assédio mortal e omissão diante de situações de racismo” ocorridos no Ministério das Mulheres.
Sobre as denúncias específicas contra Cida Gonçalves, a pasta disse que encaminhou para a CEP da Presidência – que trata o caso em sigilo – porque a CGU não possui competência para atuar.
“Quanto às demais pessoas envolvidas, as denúncias não apresentaram elementos suficientes que indicassem possíveis infrações disciplinares. Diante disso, os autos foram arquivados por ausência de materialidade”, completou o órgão em nota oficial.
Questionado, o Ministério das Mulheres informou que nenhuma das acusações foi registrada formalmente nos canais de denúncia da Corregedoria do órgão.
De acordo com a pasta, foram realizadas em 2024 capacitações com 161 servidores efetivos e comissionados e terceirizados, o equivalente a 62% de todas as áreas do órgão, sobre prevenção e enfrentamento ao assédio moral e sexual. Na ocasião, houve esclarecimento sobre como as denúncias são tratadas no âmbito do direito administrativo disciplinar.
“O Ministério das Mulheres reforça ser contra todo tipo de discriminação e ressalta que dará andamento a qualquer tipo de denúncia feita formalmente nos seus canais pertinentes e prestará todo o apoio a eventuais apurações instauradas nos órgãos externos de controle”, finalizou.
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