Quem anda pelos corredores dos supermercados já percebeu: o preço do café aumentou bastante! Em alguns lugares, é possível encontrar pacotes de 500 gramas de café comum por cerca de R$ 30, conforme apurou a reportagem de O Tempo. Valor que pode ser explicado por diversos fatores ligados à produção e que acabam refletindo em um aumento do preço no produto final vendido ao consumidor, de acordo com agentes do
O Coordenador Técnico Estadual de Culturas e Café da Emater, Sérgio Regina, explica que o Brasil – e também diversas localidades no mundo – passou por questões climáticas extremas nos últimos anos, o que afetou muito a produção de café. “É uma série de fatores que historicamente nunca aconteceram dessa forma”, diz.
Ele pontua que, em virtude disso, os estoques estão baixos e lembra que Minas Gerais, por exemplo, sofreu com geadas em 2021 e, desde então, vem sofrendo uma série de impactos na mudança do clima. “Foram geadas severas nas regiões produtoras, principalmente no Cerrado Mineiro e no Sul de Minas. Logo em seguida, tivemos uma estiagem prolongada e altas temperaturas”, diz. Vale lembrar que o ciclo do café, da plantação até a primeira safra, dura cerca de dois anos.
A demanda, segundo Sérgio, também tem pressionado os preços. “O brasileiro está aprendendo a beber café bom. Aquela história de que a gente exportava o café bom para para Europa e bebia os piores cafés está mudando. O Brasil hoje é o segundo maior consumidor de café do mundo. Isso é muito positivo. Mas, por outro lado, quando a gente aumenta a demanda, você tem também um fator de pressão nos preços”, diz.
O diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio, acrescenta, além das questões climáticas, o “custo de produção, que vem aumentando ano a ano, e a alta demanda externa, aliada à desvalorização do real frente ao dólar que tornou o produto mais competitivo no mercado internacional”.
Produção deve cair em 2025
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a estimativa é que, neste ano, a produção de café caia até 6,8%, em relação à 2024. Considerando as duas espécies, arábica e canephora, devem ser produzidas 3,2 milhões de toneladas, ou 53,2 milhões de sacas de 60 kg.
Celírio explica que um dos fatores para essa baixa na produção está no próprio ciclo do café. “O café arábica, predominante no Brasil, é caracterizado por ciclos alternados de alta e baixa produtividade. O ano de 2024 deveria ser marcado um ciclo de bienalidade positiva, o que naturalmente aumentaria a produção”, diz. Ou seja, 2025 deve entrar no ciclo de baixa produção.
Além disso, Sérgio Regina acredita que os fatores já citados sobre a influência do clima nas plantações de café ainda vão refletir neste ano. “Já influenciaram a safra que vai ser colhida de forma irreversível. A gente tem que, infelizmente, se preparar para a manutenção desses preços altos”, lamenta.
Já Celírio pontua que a expectativa para 2025 ainda depende de variáveis importantes, como o comportamento climático, os custos de produção e as condições do mercado global. “Há fatores que podem pressionar os preços, como a continuidade de eventos climáticos adversos e a instabilidade no mercado de insumos”, cita. “Tudo indica que ainda teremos aumentos repassados para o consumidor nesses três primeiros meses de 2025”, afirma.
Ações para mitigar impactos
Para minimizar os impactos, as indústrias estão adotando algumas iniciativas, como inovação e eficiência na produção, investimento em tecnologias que aumentam a produtividade, eficiência no processamento do café e a diversificação de fornecedores. “Mas, tudo isso vai interferir pouco diante do peso do preço da matéria-prima para a formação de preço final”, afirma Celírio Inácio.
Na Emater, Sérgio conta que tem trabalhado junto aos produtores para mitigar os efeitos do clima nas plantações de café. “A gente constatou, no último período seco, que mesmo as lavouras irrigadas tiveram redução de produção. Então não foi só o fator chuva que interferiu, foi, principalmente, o fator temperaturas altas, levando ao abortamento de flores e de frutos, reduzindo o peso desses frutos, reduzindo o rendimento”, diz.
Nesse sentido, a solução para alguns produtores tem sido o uso de plantas de cobertura, que auxiliam na manutenção da temperatura do solo e a abaixam em até 20°C, ajudando a evitar perdas. “São plantas de pequeno porte que a gente planta na entrelinha do café. A gente maneja essas plantas com roçadeiras, mantendo elas baixas para não concorrer com o café. Essas plantas têm o poder de reciclar nutrientes, e suas raízes ajudam a quebrar a compactação do solo, trazendo uma série de benefícios”, explica.