Autor do atentado em Brasília na noite de quarta-feira (13/11), Francisco Wanderley Luiz, o “França”, como era conhecido em Rio do Sul (SC), nunca foi engajado ou interessado em política, o que só aconteceu nos últimos anos, a partir da chegada de Jair Bolsonaro (PL) ao Planalto, em 2019.
O relato é da cuidadora Margarete Versino, de 57 anos, que se casou com “França” no final da década de 1980. Eles viveram juntos por 17 anos e tiveram dois filhos.
“Nunca se envolveu com política. Era outra pessoa. Com o tempo, começou a mudar de atitude. E quando o Bolsonaro perdeu [em 2022], ele enlouqueceu. Acho que foi ali que começou um problema mais forte, sabe?”, afirma a ex-esposa em entrevista à reportagem na manhã dessa sexta-feira (15/11).
“A gente tentava dizer para ele: França, isso não é normal. Mas não tinha outra conversa. Ele estava indignado com a política. Víamos um fanatismo”, diz.
“Quando a filha [dele e dela] esteve no Brasil, em julho, e passamos o dia juntos, ele expressava bastante indignação com as pessoas presas [em função dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023]. Falava demais. A gente comentou com ele que tinha que mudar. Até falamos de Jesus para ele, minha filha é missionária. Mas, enfim, ele só falava de política”, afirma.
Margarete diz que não sabe se França participou dos atos golpistas de 2023 e afirmou que sua mudança para Brasília foi interpretada como uma tentativa de “fugir dos problemas” em Rio do Sul, onde enfrentaria uma separação tumultuada com a segunda companheira, Daiane Dias.
Em depoimento à Polícia Federal nessa quinta (14/11), Daiane disse que o plano de França era matar o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Mas Margarete disse que a família não acredita nisso.
“A intenção dele não era matar ninguém, como já falaram aí. Tenho certeza que não. Ele era uma pessoa do bem. Fez mal para ele”, afirma Margarete.
Segundo ela, França “sempre foi um ótimo pai”. A filha que é missionária tem 37 anos e está morando na Tailândia. O outro filho, de 34 anos, é engenheiro mecânico e tem residência em Itapema (SC). França também tem um enteado, filho de Daiane Dias, que o ajudava no trabalho, no “França Chaveiro”.
“A gente nunca deixou de ser amigo depois da separação. Ficamos alguns anos distantes no início, mas depois a gente se tornou amigos, pelos filhos. Ele sempre frequentou minha casa. E eu nunca saí da família do França. Vou todos os dias na casa da minha sogra, que é uma mãe para mim. E estamos todos em choque”, relata Margarete.
Segundo ela, a mãe de França, de 89 anos, precisou ser levada ao médico duas vezes desde o episódio.
A família contratou um advogado para atuar em Brasília, mas ainda aguardava informação sobre a liberação do corpo para o sepultamento.
“É um choque para os filhos terem que aceitar isso, um fim tão trágico para o pai deles, e uma coisa que ele escolheu. A gente acaba se culpando por não ter visto que ele estava tão doente”, lamenta. “A gente nunca esperava isso dele. Se você for em Rio do Sul inteiro, você só vai ouvir bem dele.”
Fonte: Estado de Minas